O artigo de hoje fala sobre armazenamento da água da chuva e distribuição. Vamos trazer um case do sertão nordestino, mostrando como esses sistemas podem representar uma economia de recursos naturais e financeiros.

  • Como funciona o armazenamento de água da chuva?
    • Componentes de uma cisterna
  • Case: Armazenamento da água da chuva e distribuição
    • O armazenamento de água da chuva para agricultura
    • Os efeitos do projeto ASA na agricultura semiárido brasileiro

Em nosso país, desde novembro de 2017, vigora uma lei de incentivo a captação e uso de água da chuva. Em suma, o texto estabelece que a Agência Nacional das Águas (ANA) fica na responsabilidade de “incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas pluviais”.

A alteração foi efetuada na Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, conhecida como Lei das Águas.

O uso de água da chuva está atrelado a preservação do meio ambiente e economia de recursos financeiros com o objetivo de assegurar a disponibilidade em determinado padrão de qualidade.

É importante lembrar que Brasil possui recursos hídricos abundantes, mas que tem enfrentado crises assustadoras em diversos estados. Crises essas por enchentes nas cheias ou por escassez devido a períodos de estiagem prolongados.

Captação para lidar com a estiagem

Nessas questões, o armazenamento de água da chuva pode cooperar com a redução dos volumes dispensados em direção às galerias pluviais. Diminuindo por outro lado as chances de escassez por meio do acúmulo de água em períodos de chuva.

Mas afinal, como deve ser um sistema para armazenamento de água da chuva?

A seguir, traremos os componentes que fazem parte desse sistema desde a captação até o consumo dessa água.

Como funciona o armazenamento de água da chuva?

O armazenamento de água da chuva funciona normalmente para suprir uma necessidade em períodos de estiagem.

Essa água pode ser utilizada para alguns fins como lavar carros, irrigar plantas, limpar pisos ou dar descarga em vasos sanitários.

Para que essas águas sejam acumuladas são usadas cisternas, que depois de alguns componentes, irão armazená-las.

As cisternas também podem armazenar água tratada vinda de caminhões pipa. Nesse caso, boa parte da estrutura citada a seguir pode ser dispensada.

Componentes de uma cisterna

Coletor de água da chuva

Os itens podem variar conforme o projeto mas, de acordo com as normas técnicas, os componentes de uma cisterna são os seguintes:

  1. Reservatório de autolimpeza — Também pode ser chamada de First Flush. A primeira água da chuva vem carregada de sujeira, que é acumulada no telhado. Esse reservatório faz o armazenamento dela, deixando as águas seguintes passarem adiante.
  2. By-pass — O sistema é projetado com determinada capacidade de vazão, devido aos processos de filtragem. Quando o limite é ultrapassado, o By-pass libera esse excesso, dispersando a água para a galeria pluvial.
  3. Filtros — O primeiro filtro é o que retira folhas e a sujeira mais grossa. O segundo é uma peneira de aço que reforça o processo de limpeza. A água e sujeira removidas pelo filtro são descartadas por um encanamento, nesse momento, por gravidade. Exige-se uma limpeza posterior devido ao acúmulo.
  4. Freio d’água — Trata-se de estrutura curva que faz com que a água vá para cima e depois para baixo. Isso evita que os sedimentos do fundo sejam dispersados pela água.
  5. Sifão-ladrão — Esse componente faz a mesma função que em caixas de água convencionais, dispersando o que estiver acima do nível desejado.
  6. Conjunto de sucção — É utilizado para retirar as águas superficiais para uso. É uma espécie de boia, que retira água por uma mangueira, evitando a captura de sedimentos.
  7. Eletronível — Em cisternas que utilizam bombas d’água, o eletronível serve para desligar a bomba quando o nível de água é muito baixo.
  8. Tampa de inspeção — Serve para introdução de cloro ou observação das características da água. É necessário assegurar que ela veda a parte superior da cisterna.

Case: Armazenamento da água da chuva e distribuição

Sempre quando falamos de seca no nordeste, o governo traz a tona as obras de transposição do Rio São Francisco.

Apesar de ser vista como a salvação para o semiárido brasileiro, já faz décadas que outras medidas são utilizadas pelos próprios moradores e instituições interessadas.

Uma dessas instituições é a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) que mantém projetos para levar água até áreas necessitadas. A instituição, que surgiu no início da década de 90, é formada por diversas organizações como sindicatos, ONGs e cooperativas.

O case da ASA é abrangente em quantidade e qualidade de água, assim como o número de pessoas beneficiadas por seus projetos.

O primeiro deles é o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) iniciado no ano 2000.

É utilizada a chuva para abastecer as famílias com água potável, apoiando a implantação e uso de cisternas nas residências de moradores. Antes disso, era necessário andar por vários quilômetros até encontrar água para cozinhar e beber.

Prezando pela descentralização e democratização da água, buscam alcançar locais inviáveis de ser abastecidos por companhias de saneamento.

Programa para levar água em comunidades carentes

Os benefícios mais notáveis com a aplicação do projeto são o aumento da frequência escolar, diminuição da incidência de doenças causadas por água contaminada e a redução da sobrecarga de trabalho das mulheres.

É importante notar que além do consumo de água, as comunidades recebem um impacto estruturante, fator que faz parte da missão ideológica da ASA.

Os idealizadores do P1MC tentam incluir nas políticas públicas a compreensão da necessidade de sistematização de experiências locais. Isso consiste em uma análise de demanda e quais as ferramentas acessíveis a todos pode ser empregada.

Contudo, o P1MC foi apenas o início da jornada.

O armazenamento de água da chuva para agricultura

Outro projeto do Instituto ASA é voltado para área rural, chamado Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2).

Ele tem por objetivo disponibilizar metodologias para o armazenamento de água da chuva para agricultura.

As ações do projeto iniciam com o cadastro da família a ser atendida pelo sistema. Os critérios são:

  • Renda per capita até meio salário mínimo
  • Inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico)
  • Possuir número de Identificação Social (NIS)
  • Lógica e forma de produção definidos
  • Uma avaliação técnica das características do solo e sua formação

Depois dessas avaliações o programa oferece cursos que capacitam os agricultores para operar as metodologias. Os cursos Gapa, SSMA e de Capacitação de Pedreiros somam conhecimentos em diversas áreas.

O curso Gapa auxilia no conhecimento de: manejo da água, cuidados com a horta, uso de plantas medicinais, defensivos agrícolas naturais, fertilização e acesso a fundos para investimento.

O SSMA leva os produtores para ver as técnicas em funcionamento, como parte prática do curso anterior, e  demonstra todas as questões relacionadas ao sistema produtivo familiar.

No curso de capacitação de pedreiros é ensinada a lógica da construção de barragens, tanques e cisternas. Os pedreiros são preparados para lidar com cada tecnologia de captação e armazenamento de água da chuva.

Nesse último curso é inserido um módulo teórico da proposta de convivência no Semiárido. É uma tentativa de implantar uma cultura de consciência e reatividade em projetos que levem água para a comunidade.

Programa ensina usar água de chuva na agricultura

Vale ressaltar que a dificuldade de cultivar no sertão nordestino é a incerteza da chuva.

A inconstância do período chuvoso, de janeiro a julho, é fatal para a agricultura. Por isso, guardar cada gota de água é inteligente e resolve o problema da seca em regiões com precipitações aceitáveis.

Os efeitos do projeto ASA na agricultura semiárido brasileiro

Quando nos referimos a agricultura familiar no Brasil, estamos falando de 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa. O interessante disso é que mesmo com dificuldades, mais da metade das famílias produtoras estão no semiárido brasileiro.

De acordo com pesquisadores que avaliaram os efeitos do projeto ASA, a renda anual familiar dos beneficiários é em média 21% maior que outras famílias.

Se tratando apenas de agricultura, os beneficiários do programa obtém uma renda anual média de R$ 3.628,78. Já os que não são beneficiários tem uma renda anual média de R$ 2.272,27. O programa demonstra uma eficiência produtiva de pelo menos 37% a mais que outros produtores.

Os indicadores de qualidade de vida de beneficiários do programa são maiores quando comparados com não-beneficiários. Sejam eles de condições sanitárias e de higiene, de qualidade de vida, econômicos ou habitacionais.

O case ASA demonstra a importância de estudos dirigidos à realidade local. Evitando que obras caríssimas fiquem no papel à espera de recursos, enquanto há saídas viáveis que carecem de investimentos ínfimos perto do benefício que produzem a população.

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